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Procuro uma janela para a noite, mas só a chuva se intensifica, os blues afogados pela intensidade com que se projecta nos vidros. Procuro uma posição para  sentar esta resposta súbita da chuva, a condenar-me a permanecer neste limbo, esquecido dos princípios da ergonomia, agradecer não ter que me expor à sua veemência. Olhos cansados de píxeis, rabo dorido de sentar os momentos desleixados do acampamento.

 

Neste momento não há mais que isto, não há qualquer mistificação, não é preciso nenhuma redenção. Já de chega de versos, daqui se vislumbra o que pode ser feito, o que tem que ser feito. Não são desejos estapafúrdios, são resoluções. É o rabo dorido. Não faltar nada de relevante no sossego geral e particular. A paisagem ter as figuras minúsculas. O desapontamento não gerar raiva, tudo ser humanamente possível de ser feito. Aqui não são admitidas culpas, estou além do bem e do mal, pendurado num penhasco, numa escalada vertical, a confiar a minha vida aos grampo que cravo, sem dispensar os estigmas, sem iludir os excessos do sentir, a ir mais além, à compreensão dos fenómenos estudados, à formulação de novas perguntas;

 

Não é para onde vou, que desconheço, é como vou, que releva.

 

Esqueci-me como foi o ano passado. A consulta ao diário não regista nada senão fotos. Não passei de ano, estou em 2014? a celebrar o quê? 

 

Sem celebrações não se pode passar de ano? 2014? Numa falsa descolagem, um equívoco sem graves consequências, embora os anos tenham decorrido e não reste arrependimento, para querer voltar atrás, podia custar-me despedir deste ano, mas este ano vai estar nos próximos, como nutriente, sem a delapidação habitual, cálculos mentais e esperteza de rua. Crónicas para além do razoável. Olhos demasiado activos. Não é isto pouco nem muito, basta para quem não sabe mudar de canal, se afeiçoou a esta maneira de incapacitar a nostalgia, de aquietar as sombras, a marcar o ritmo nas doses recomendadas, no equilíbrio firme de um chão sólido, de quatro paredes para não se constipar, sem qualquer rigor, sem qualquer vigor fora de uso, a exercitar a mente, a somar as parcelas de cabeça, sem precisar de ser indispensável. A semi-cerrar os olhos das teclas, a procriar indistintamente, a querer ter corpo para o fato. - «Não te vás já embora, ainda não são horas de jantar.»

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