A esta hora devia estar a lavar os dentes. Depois de um dia cansativo e monótono, onde teria tido que fazer outras rotinas. Não sabia se era um afortunado por poder preocupar-se com paralelismos do tipo:
Pode-se confiar num tipo que usa cinto e suspensórios? Não será o mesmo usar dois camisolões com capuz?
E depois porque é que as canções de amor são sobre perda. Não tenho nenhuma que vos possa recomendar. Uma suave, dessas que se podem cantar em igrejas.
Lembro-me sempre de Close Watch, do John Cale. E que faço aqui a ocupar-me destes afazeres, sem um norte, porque esfrego o fogão com óleo para ficar bonito?
Sinto-me um bloco errático qualquer numa moreia...ocorre-me o tédio do J. G. Ballard. Ou pobreza de espírito, ou laços frágeis como teias de aranha, facilmente engolidos por uma vassoura.
E não há um Deus que me tire deste torpor. Não sei bem o que me faz falta. Se descascar mais batatas enquanto penso nos Covões, ou secar roupa a pensar no museu de Arte Antiga.
Mas não me alimento de gafanhotos e mel silvestre.